terça-feira, 26 de junho de 2012

Querido

mais dias menos dias
conversas
rumo incerto
direto no
ruidoso silêncio

o esmalte lascado 
os cigarros não terminados
a televisão ligada para ninguém:
a vida é boa - frase simples, às vezes, difícil de ser falada.

Fragmento I - um pedaço de voil no meu rosto:

Paz. Opto pelo estrondoso "sim",
pelas risadas misturadas aos semipensamentos
desnudos: disrupção do ser que alaga meu corpo-mente.

Meus secretos sincericídios: gosto de você assim. 


domingo, 3 de junho de 2012

NUTRIÇÃO

O domingo e o silêncio. Deitada, olhando pela fresta da janela, consigo ver as nuvens caminhando rapidamente no firmamento azul, elas se assemelham aos meus pensamentos que desfilam em minha consciência. Meu coração parece estar se acalmando.  Os últimos dias foram intensos e turbulentos. Hoje, o dia está bonito, o clima está agradável, as pessoas, nas ruas, com suas roupas esportivas e seus cachorros - que vira e mexe se atracam um na garganta do outro - estão envoltas por uma áurea de dignidade, ora cândida, ora ofendida. Não sairei de casa para viver o mundo. Preciso meditar, uma miríade de solicitações - muitas vezes provocadas por mim mesma - saltam à minha frente. Não, não, os cavalos já estão domados, por isso, agora, podem correr livremente  até se cansarem e se deitarem na relva. Amazona de mim, observarei a hora em que os conduzirei com sucesso. Estudo a minha alma. Não vou me desgastar, serei generosa e protetora, darei o repouso necessário e como quando colocamos os pés na areia, regressarei à zona de regeneração.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Não sobrevivo...

Um passo. Vacilo. Equilibro. Descobri de repente alguns diamantes - eu mesma os produzi? Talvez. Pressionei o carbono para a minha consciência cintilar: não é lá fora o que procuro, é aqui, está aqui. No mar que corre dentro de mim (por enquanto tranquilo) descobri um timão boiando, é a minha manobra perfeita, sedenta de edificações - não é cópia, é originalidade assombrosa.

Dirijo-me.

Distante, esgueirando-se na escuridão, um farol projeta luzes, deixando minhas mãos em evidência. O que carrego com tanta cautela e amor? Já não sou uma, mas duas mulheres gêmeas que se encaram, a fim de dividirem um cardápio diário a ser consumido: um tipo de fidelidade rara, lapidada.

Nesta noite, os pensamentos plasmam-se na parede do meu quarto: um quadro impressionista, meu caro. Seria  eu uma nenúfar branca, intocada, audaz, boiando em duas lembranças do devir?

terça-feira, 3 de abril de 2012

Para começo de conversa...

Recomeçar. Posso ser diferente no limiar do que se é, para tanto, o que modifico é a lente como me perscruto.

As rosas, sobre a mesa, marcam o dia em que a esperança bateu à minha porta: uma festa íntima iniciou e, gradativamente, dentro de mim,  agitam-se gatos entre cigarros e gim - ou seria um frasco de perfume? - em uma única poltrona.

(Onde está o reflexo do que ainda se engendra, silenciosamente, a partir das falsas expectativas que criei por vício e carência? Um grão translúcido, semelhante a lágrima de um bebê de ouro, estilhaça sobre o chão.Ouço um estampido, me sinto livre)

Não responsabilizo mais o mundo, o que esvaiu - todos aqueles pensamentos e sentimentos direcionados a uma única pessoa - metamorfozeou-se em uma imagem edificante que nasceu do vórtice do meu comando: uma flor de lótus. Descobri sem querer, nesta tarde, enquanto cochilava acordada, os  filamentos dos meus desejos que me ligam ao mundo e, como uma anciã, puxei-os e fiz uma belo vestido de minha própria pele.

Para começo de conversa...

Recomeçar. Posso ser diferente no limiar do que se é, para tanto, o que modifico é a lente como me perscruto.

As rosas, sobre a mesa, marcam o dia em que a esperança bateu à minha porta: uma festa íntima iniciou e, gradativamente, dentro de mim,  agitam-se gatos entre cigarros e gim - ou seria um frasco de perfume? - em uma única poltrona.

(Onde está o reflexo do que ainda se engendra, silenciosamente, a partir das falsas expectativas que criei por vício e carência? Um grão translúcido, semelhante a lágrima de um bebê de ouro, estilhaça sobre o chão.Ouço um estampido, me sinto livre)

Não responsabilizo mais o mundo, o que esvaiu - todos aqueles pensamentos e sentimentos direcionados a uma única pessoa - metamorfozeou-se em uma imagem edificante que nasceu do vórtice do meu comando: amor próprio. Descobri sem querer, nesta tarde, enquanto cochilava acordada, os  filamentos dos meus desejos que me ligam ao mundo e, como uma anciã, puxei-os e fiz uma belo vestido de minha própria pele.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Exílio

No silêncio, me desembaraço. Não sei quando começou, mas a solidão é minha arte. Demorei para notar o porquê olhava obstinada para os filetes de cenoura e as vagens partidas ao meio: tudo era bom e natural. De onde vem a ira?

Tem chovido muito esses dias, prefiro usar coques e prender a franja para trás a deixar os cabelos soltos. "Aguarde. Confie. Faça a sua parte. Você descobrirá seu próprio caminho."

Como quando descamamos um peixe e tiramos suas vísceras, reviro os sentimentos e as sensações até encontrar um pedaço de azeviche, pequeno tormento a ser decodificado com paciência. Encontrarei o caminho.

Na janelas do quarto azul marinho e do banheiro de azulejos verde oliva, os raios de sol procuram corpos para lembrá-los que ainda estão vivos: respirem, toquem-se, olhem para seus membros! Mergulhando,cada vez mais em mim, fico negra e silenciosa como a noite.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Translúcida

Há uma verdade em cada um daqueles escritos, há uma certa intimidade corajosa naqueles desabafos que acariciam a dor da morte. Como leitora, voyer sôfrega, a cada verso tragado, coloco os pés no lago de brumas na tentativa de tatear uma resposta.

O Nada é um urso polar imenso à procura de presas. Ele não é mal, é natural. O que assombra é, talvez, a certeza da falta de sentido. Ninguém, naquela manhã, atreveu-se a dizer um não e, como robôs, ordenaram suas falas e poliram seus pensamentos, solicitando apenas notas fiscais a cada desejo entornado.

De dia, meu amor é imenso. Sinto-me forte e, como a lua, observo a humanidade com generosidade e perdão. Tiro do meu bolso, quando tocam o sino no final da tarde, tanques de areia, nos quais deixo no canto um rastelo, uma picareta e uma foice. Equilibro-me no meu olho esquerdo, jogando o peso do ideal para o alto, içando qualquer tentativa de autoflagelação. Aprendi a me amar e agora estou pronta para o Bem. De noite, com a respiração presa, visito a vida de um ancestral raposa, sábio e aterrorizante conta a minha história segurando uma flor orvalhada. Ele a assopra e sinto que meu coração é uma harpa vibrante.